O Espaço Agrário Mundial

Contra a corrente

Do outro lado do Atlântico, a um mundo de distância, Dale Lasater está parado num curral cheio de touros imensos dando-Ihes de comer na palma da mão. Atrás dele, nesse dia quente de primavera, as Rochosas continuam cobertas de neve. Lasater é um cinqüentão de bigodes fartos, óculos de armação de metal, calça jeans surrada, botas bem gastas e uma camisa impecável; meio que um misto de caubói e acadêmico Ivy League. Os touros amontoados à sua volta parecem quase meigos, comportam-se mais como punhado de Ferdinandos do que como símbolos de um machismo feroz. Foram criados para ser dóceis, seus chifres não foram cortados e nunca foram laçados.  A fazenda de Lasater ocupa cerca de l2 mil hectares de pastagens perto da cidade de Matheson, Colorado. É uma fazenda lucrativa que há meio século não usa pesticidas, herbicidas, venenos nem fertilizantes, que não mata nenhum dos predadores, como coiotes, e que não aplica hormônios, esteróides ou antibióticos no gado. Os Lasaters não são em hipótese alguma criadores típicos, mas vêm trabalhando para mudar a forma como a carne americana é produzida. Em questões de pecuária, a filosofia deles baseia-se num principio simples, ‘’ A natureza é esperta feito o diabo’’.
A iconoclastia de Dale Lasater parece estar no sangue. Um de seus avós chefiou a associação pecuarista do Texas no começo do século 20 e liderou a luta contra o Beef Trust, testemunhando perante o Congresso e pedindo a implementação das leis antitruste. Em troca, o Beef Trust recusou-se durante anos e anos a comprar o gado de Lasater. O pai de Dale, Tom Lasater, largou os estudos em Princeton, depois da quebradeira de 29 para se tornar pecuarista em tempo integral. Os tempos difíceis forçaram-no a buscar outras maneiras de criar o gado sem gastar muito. Decidiu então deixar que a natureza fizesse boa parte do trabalho. Passou a criar animais de tal forma que fossem bons, férteis e fortes, sem dar muita bola para sua aparência. Misturou Herefords, Shorthorns e Brahmans para criar uma raça totalmente nova [...]. E deu a ela um nome adequadamente americano: Beefmaster. Em 1948, Tom Lasater mudou-se com a família do Texas para o leste do Colorado. Apesar da indignação e descrença dos vizinhos, recusou-se a matar os predadores ou a permitir a caça em suas terras, deixando os animais que os outros fazendeiros exterminavam - cascavéis, coiotes, texugos, esquilos de vários tipos e cachorros-do-mato - se multiplicarem. Achava que o gado se beneficiaria bem com os desafios do ecossistema natural do que com esforços humanos para controlar o meio ambiente.
SCHLOSSER, Erie. País do faz food. São Paulo: Ática, 2001. p. 319-320

AS ATIVIDADES ECONÔMICAS E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO 
As atividades agrícolas e pecuárias são desenvolvidas pelos seres humanos há mais de 10 mil anos, quando as comunidades primitivas passaram de um modo de vida nômade, baseado na caça e na coleta de alimentos, para um modo de vida sedentário, viabilizado pelo cultivo de plantas e pela domesticação de animais.
No caso da agricultura, esta foi inicialmente praticada nas margens dos grandes rios, como o Tigre e Eufrates (na antiga Mesopotâmia, atual Iraque), Nilo (no Egito), Yang-Tsé-Kiang (na China, Ganges e Indo (na Índia. Foi justamente nestas áreas que se desenvolveram as primeiras grandes civilizações.
Durante esse período, povos de várias partes do mundo aprenderam a cultivar diferentes tipos de plantas, como o trigo, o arroz e a cana-de-açúcar na Ásia; a aveia, o centeio e a beterraba na Europa; o milho, a mandioca e o cacau na América.
A domesticação e a criação de animais em rebanhos, por sua vez, também foram fatores importantes para a subsistência de diversos grupos humanos.
Mas, para que fosse possível desenvolver a agricultura e a pecuária, os seres humanos precisaram criar instrumentos, como arados, enxadas e foices, técnicas de cultivo, como a irrigação e o pousio - que visa interromper o uso de determinada área de plantio durante certo tempo, a fim de recuperar a fertilidade do solo-, além de técnicas de criação, como a transumância - migração periódica dos rebanhos, realizada em diferentes épocas do ano, em busca de melhores pastagens.
Esses recursos possibilitaram maior controle sobre os processos naturais. Como resultado, obtiveram-se colheitas mais fartas e rebanhos mais sadios. Além disso, surgiram diferentes formas de organização em torno do trabalho agropecuário, envolvendo, por exemplo, a divisão de tarefas no interior dos grupos sociais, como a preparação da terra, o plantio e a colheita, o que estreitou as relações entre os indivíduos e ampliou ainda mais seus laços culturais.
Com a evolução da agricultura, começou a haver excedente de produção, o que possibilitou o desenvolvimento do comércio, inicialmente baseado na troca de produtos. Nos locais onde ocorriam as trocas, desenvolveram-se várias cidades.
Em todos os continentes, áreas florestais e de campos foram desmatadas para dar lugar a plantações, pastagens e áreas de extração vegetal e mineral, processo que transformou antigas paisagens naturais em paisagens rurais. O campo tornou-se então o espaço geográfico da produção agrícola, alimentando e suprindo com matérias-primas os camponeses e a população que vivia nas aldeias e nas cidades.

MEIO RURAL E ATIVIDADES AGRÁRIAS   
Hotel Fazenda em São Paulo
O meio rural se opõe ao urbano. Este se refere ao espaço das cidades ou vilas, enquanto aquele diz respeito ao campo, a todas as áreas onde não há cidades nem vilas. É lógico que a definição do que é cidade ou vila - logo, do que é urbano - varia muito de acordo com o país, o autor ou a instituição que pesquisa esse tema. Em alguns países, para uma localidade ser considerada urbana, é necessário haver nela pelo menos 20 mil habitantes, além de um mínimo de equipamentos: hospital, escolas, bancos, praças, biblioteca.
No Brasil não é assim; para um aglomerado se considerado urbano, basta ser uma sede de município, ou então uma vila, subordinada a uma cidade Isso, às vezes, gera o absurdo de uma localidade com menos de mil habitantes - e quase nenhum equipamento - ser classificada como área urbana Por esse motivo, alguns autores dizem que a população de fato urbana no Brasil não é tão grande como aparece nas estatísticas oficiais (cerca de 85% da população total). Todavia, mesmo tendo uma população urbana menor que a oficial, é evidente que o Brasil vem se urbanizando rapidamente nas últimas décadas e que existe uma diminuição relativa (às vezes até absoluta) da população do campo e um aumento da população das cidades.
O espaço urbano, geralmente mais artificial que o rural, é marcado pelo grande número de construções: casas, lojas, fábricas, avenidas, escritórios, escolas, hospitais, etc.
O espaço rural geralmente tem presença maior da natureza (matas ou campos, plantações) e também possui alguns aglomerados de residências e pequenas vendas - ou às vezes até fábricas e hotéis isolados - que não são considerados cidades nem vilas.
É freqüente a confusão entre rural e agrário, o que não é totalmente verdadeiro, pois o espaço rural não sedia apenas atividades agrárias (agricultura, pecuária e extrativismo). Nele também se localizam outras atividades, que vêm se multiplicando nas últimas décadas: hotéis-fazenda (foto acima), turismo rural e ecológico, clínicas de repouso (spas), colônias de férias, condomínios ou fábricas isolados, pequeno comércio, etc. É provável que, dentro de algumas décadas ou anos, conforme o caso (no Brasil, isso ocorrerá em 2014), a maior parte da população do meio rural se dedique a atividades não agrárias, pois o crescimento desse tipo de emprego tem ocorrido a um ritmo bem maior que o das atividades propriamente agrárias.
As atividades agrárias ou primárias foram as primeiras que a humanidade praticou na busca de sua sobrevivência, principalmente a coleta florestal, a pesca e a caça. O desenvolvimento econômico e a industrialização provocaram mudanças nessas atividades, com a mecanização e a produção em grande escala. E a atividade extrativa tradicional tende a desaparecer substituída pela indústria extrativa ou pela agricultura e a pecuária.
A mineração passou a constituir um ramo industrial, criado com grandes investimentos de capitais em maquinarias, e a forma tradicional de garimpo, embora ainda existente, em especial na Amazônia, tornou-se pouco representativa. Isso também ocorreu com a caça e a coleta de frutos. Em vez de caçar animais, passou-se a domesticá-Ias e a criá-las fazendo cruzamentos, desenvolvendo novas raças e conseguindo uma melhor produtividade. E deixou-se de extrair vegetais do interior de florestas para cultivá-las, o que tornou mais racional a sua exploração. A atividade primária fundamental nos dias de hoje, portanto, é a agropecuária.
Mesmo no Brasil, país enorme e que ainda possui vastas reservas florestais, o extrativismo perde cada vez mais a sua importância. Plantações de seringueiras crescem em São Paulo e outras áreas do Centro-Sul, substituindo o já decadente extrativismo da borracha na Amazônia. Um processo desse tipo já ocorreu há muito tempo com o cacau, originário da floresta Amazônica, mas cultivado no sul da Bahia. Já se pensa em fazer o mesmo com o babaçu e a castanha-do-pará. A atividade extrativa tradicional, portanto, possui uma importância pequena na economia brasileira e tende a decrescer a cada dia.
Mas a importância ecológica - de preservação das florestas - do extrativismo vegetal é enorme, pois é uma atividade econômica que não necessita destruir a mata e, pelo contrário, procura mantê-la.
No Brasil não é assim; para um aglomerado se considerado urbano, basta ser uma sede de município, ou então uma vila, subordinada a uma cidade Isso, às vezes, gera o absurdo de uma localidade com menos de mil habitantes - e quase nenhum equipamento - ser classificada como área urbana Por esse motivo, alguns autores dizem que a população de fato urbana no Brasil não é tão grande como aparece nas estatísticas oficiais (cerca de 85% da população total). Todavia, mesmo tendo uma população urbana menor que a oficial, é evidente que o Brasil vem se urbanizando rapidamente nas últimas décadas e que existe uma diminuição relativa (às vezes até absoluta) da população do campo e um aumento da população das cidades.
O espaço urbano, geralmente mais artificial que o rural, é marcado pelo grande número de construções: casas, lojas, fábricas, avenidas, escritórios, escolas, hospitais, etc.
O espaço rural geralmente tem presença maior da natureza (matas ou campos, plantações) e também possui alguns aglomerados de residências e pequenas vendas - ou às vezes até fábricas e hotéis isolados - que não são considerados cidades nem vilas.
É freqüente a confusão entre rural e agrário, o que não é totalmente verdadeiro, pois o espaço rural não sedia apenas atividades agrárias (agricultura, pecuária e extrativismo). Nele também se localizam outras atividades, que vêm se multiplicando nas últimas décadas: hotéis-fazenda (foto acima), turismo rural e ecológico, clínicas de repouso (spas), colônias de férias, condomínios ou fábricas isolados, pequeno comércio, etc. É provável que, dentro de algumas décadas ou anos, conforme o caso (no Brasil, isso ocorrerá em 2014), a maior parte da população do meio rural se dedique a atividades não agrárias, pois o crescimento desse tipo de emprego tem ocorrido a um ritmo bem maior que o das atividades propriamente agrárias.
As atividades agrárias ou primárias foram as primeiras que a humanidade praticou na busca de sua sobrevivência, principalmente a coleta florestal, a pesca e a caça. O desenvolvimento econômico e a industrialização provocaram mudanças nessas atividades, com a mecanização e a produção em grande escala. E a atividade extrativa tradicional tende a desaparecer substituída pela indústria extrativa ou pela agricultura e a pecuária.
A mineração passou a constituir um ramo industrial, criado com grandes investimentos de capitais em maquinarias, e a forma tradicional de garimpo, embora ainda existente, em especial na Amazônia, tornou-se pouco representativa. Isso também ocorreu com a caça e a coleta de frutos. Em vez de caçar animais, passou-se a domesticá-Ias e a criá-las fazendo cruzamentos, desenvolvendo novas raças e conseguindo uma melhor produtividade. E deixou-se de extrair vegetais do interior de florestas para cultivá-las, o que tornou mais racional a sua exploração. A atividade primária fundamental nos dias de hoje, portanto, é a agropecuária.
Mesmo no Brasil, país enorme e que ainda possui vastas reservas florestais, o extrativismo perde cada vez mais a sua importância. Plantações de seringueiras crescem em São Paulo e outras áreas do Centro-Sul, substituindo o já decadente extrativismo da borracha na Amazônia. Um processo desse tipo já ocorreu há muito tempo com o cacau, originário da floresta Amazônica, mas cultivado no sul da Bahia. Já se pensa em fazer o mesmo com o babaçu e a castanha-do-pará. A atividade extrativa tradicional, portanto, possui uma importância pequena na economia brasileira e tende a decrescer a cada dia.
Mas a importância ecológica - de preservação das florestas - do extrativismo vegetal é enorme, pois é uma atividade econômica que não necessita destruir a mata e, pelo contrário, procura mantê-la.








AGROSSISTEMAS OU SISTEMAS AGRÁRIOS


Em primeiro lugar, temos que entender o conceito de agrossistema.
Um sistema agrário ou agrossistema é um tipo ou modelo de produção agropecuária em que se observa quais cultivos ou criações são praticados, quais são as técnicas utilizadas, como é a relação da agricultura ou da pecuária com o espaço - tanto em termos de densidade quanto de dimensão e propriedade da terra - e qual é o destino da produção.
Existem inúmeras classificações dos agrossistemas, pois os critérios para defini-Ias variam muito conforme o autor ou a organização que os classifica. Além disso, os sistemas agrários costumam ser bastante diferentes entre si, de acordo com a região do globo ou com a sociedade nacional e sua herança histórica, suas tradições, seu nível de desenvolvimento econômico, etc.
Geralmente, estabelece-se uma diferença entre a agropecuária intensiva e a extensiva, que está ligada à densidade ou distribuição no espaço do gado ou da plantação.
A agropecuária intensiva é aquela em que existe uma elevada densidade da criação ou do cultivo, o que significa que o gado ou as plantas ficam muito concentrados, ou seja, existe um maior aproveitamento por hectare.
A agropecuária extensiva é aquela em que a densidade do gado ou das culturas é baixa, o que significa que eles estão mais espalhados no espaço.
Fala-se muito também em agropecuária comercial- voltada essencialmente para o comércio, para o mercado - e em agropecuária de subsistência - voltada basicamente para suprir as necessidades de quem trabalha na terra e que comercializa apenas um excedente da produção.
A forma de propriedade da terra - privada, estatal ou coletiva - é outro critério para classificar os agrossistemas.
A propriedade privada é aquela em que um indivíduo - ou uma empresa, um grupo de pessoas ou uma instituição não governamental - tem a propriedade da terra, ou seja, pode fazer com ela o que bem entender, desde que respeite a legislação: vender, arrendar, produzir o que e como quiser, utilizar somente como lazer, etc.
A propriedade estatal ocorre quando o poder público - o governo federal, estadual ou municipal - é o dono da terra, e os trabalhadores rurais são funcionários públicos, que obedecem às diretrizes do Estado.
A propriedade coletiva é aquela que pertence a toda a comunidade que nela reside: algumas terras indígenas, por exemplo, ou as terras em que vivem inúmeras sociedades tribais africanas.
O tamanho das propriedades também é um critério fundamental para classificar os sistemas agrários. Costuma-se reconhecer três tamanhos principais: as grandes propriedades - muitas vezes chamadas de latifúndios2 -, as pequenas propriedades - que alguns denominam minifúndios3 - e as médias propriedades agrárias. Mas não é fácil definir com precisão o que é uma grande, uma pequena ou uma média propriedade rural, pois isso varia bastante em função de cada realidade nacional e, às vezes, até local.
Num país relativamente pequeno - principalmente em relação ao seu efetivo demo gráfico e à carência de bons solos agriculturáveis -, como o Japão, o preço dos imóveis em geral é altíssimo, e qualquer propriedade com mais de 200 hectares é tida como um latifúndio. Em contraposição, nos Estados Unidos, um país com um território gigantesco e onde a agropecuária geralmente depende de máquinas e equipamentos modernos (aviões para jogar pesticidas, grandes tratores, adubadeiras, colheitadeiras, máquinas para semear, etc.), uma propriedade rural com menos de 200 hectares é considerada muito pequena.
No Brasil, esses conceitos mudam de uma região para outra: na Amazônia, os imóveis rurais com menos de 70 hectares geralmente são considerados minifúndios, ao passo que somente aquelas com mais de 45 mil hectares são indiscutivelmente tidos como latifúndios. No sul do país - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul-, geralmente uma propriedade agrária com 25 hectares ler ainda não é considerada minifúndio, e todas as propriedades com mais de 15 mil hectares são tidas como latifúndios.
Levando em conta todos esses critérios, podemos classificar os sistemas agrários em tradicionais, modernos e alternativos.
Os agrossistemas tradicionais são aqueles em que há uma maior utilização do trabalho humano em relação à tecnologia; os modernos são aqueles m em que há menor utilização de mão de obra em relação a máquinas, adubos, equipamentos, etc., os que predominam. E os agrossistemas alternativos - também chamados de ecológicos ou orgânicos - são aqueles nos quais se evitam os impactos ambientais ou sociais negativos provocados pelos outros dois sistemas: não se fazem queimadas nem se explora ao máximo a força de trabalho humana, como na agropecuária tradicional; tampouco se utiliza toda aquela parafernália de máquinas, equipamentos e outros produtos (aviões, agrotóxicos, colheitadeiras, adubos químicos, plantas transgênicas, etc.), que são comuns na agropecuária moderna. Vejamos cada um desses agrossistemas. Observe as fotos ao lado.

AGROSSISTEMAS TRADICIONAIS
Os sistemas agrários tradicionais predominam nos países subdesenvolvidos, embora também existam em algumas áreas tradicionais dos países desenvolvidos (Japão, sul da Itália e da França, Portugal e Grécia).
Não são homogêneos, e sim muito variados. Alguns são intensivos, mas a maioria constitui sistemas extensivos; alguns se destinam preferencialmente ao mercado externo, mas a maioria ou são sistemas de subsistência ou se reserva ao mercado local ou, às vezes, ao regional. Vamos ver alguns exemplos.
PLANTATIONS
Talvez o mais famoso e o mais importante dos sistemas agrários tradicionais sejam as plantations.
Elas ainda sobrevivem e até são comuns em algumas áreas da América Latina, da África e da Ásia, São grandes propriedades rurais, geralmente monocultoras - isto é, que cultivam um só produto - voltadas para o mercado externo e que fazem uso intenso de uma mão de obra mal remunerada.
Cultivos extensivos e, logicamente, comerciais, as plantations são uma herança da dominação colonial que aquelas regiões do globo sofreram nos séculos anteriores, quando havia o trabalho compulsório e a colônia devia produzir gêneros agrícolas para a metrópole.
Como exemplos desse agrossistema, temos inúmeras grandes propriedades rurais voltadas para a produção da cana-de-açúcar no Nordeste brasileiro, do café ou da banana na América Central, do cacau ou do amendoim na África, da borracha (látex) na Malásia e, principalmente, na Indonésia, entre outros.

AGRICULTURA ITINERANTE
 Esse agrossistema tradicional é também conhecido como sistema de roças. Ainda existe em várias áreas de países tropicais e subdesenvolvidos: México, Venezuela, Colômbia, Brasil, Filipinas, Vietnã, Angola, República Democrática do Congo e Zâmbia, entre outros.
AGRICULTURA ITINERANTE
1.               O agricultor queima a floresta e planta sobre a cinza
2.               Depois de alguns anos, o solo perde a fertilidade e, sem receber maiores cuidados, é erodido pela chuva
3.               Sem possibilidade de plantio, o agricultor busca novas áreas para cultivo, valendo-se das mesmas técnicas
A agricultura itinerante também é um cultivo - ou, às vezes, criação - extensivo e, em geral, de subsistência, embora uma parte da produção se destine ao mercado regional. Geralmente, é praticada em áreas de solos pobres e que, no passado, eram ocupadas por matas, savanas ou cerrados que foram desmatados e queimados para dar lugar a plantações de feijão, milho, arroz, batata, mandioca, sorgo, etc.
Consiste numa prática de cultivar durante alguns anos um local, que depois é abandonado, por causa do esgotamento do solo, e deixado de lado durante algum tempo, ocasião em que outro local é cultivado da mesma maneira. Após alguns anos, volta-se ao primeiro local, onde já cresceu uma nova vegetação secundária - denominada capoeira -, que será desmatada e queimada, repetindo-se, assim, o ciclo inicial.

AGRICULTURA DE JARDINAGEM
 A agricultura de jardinagem consiste principalmente na rizicultura (cultivo do arroz) associada à plantação de outros cereais e de hortaliças. Esse tipo de agricultura é praticado há séculos (ou milênios) em várias regiões do sul, sudeste e leste da Ásia - Vietnã (foto abaixo), Índia, Indonésia, China e Japão.
RIZICULTURA NA ÁSIA
1.               Na estação chuvosa (que é influenciada pelas Monções), os agricultores preparam os solos nas áreas de várzeas
2.               Com os canteiros cheios de água, os camponeses iniciam o plantio das mudas. Estas recebem, durante o seu desenvolvimento, os cuidados de toda a comunidade
3.               Na estação seca, os agricultores realizam a colheita de arroz, geralmente feita de forma manual
Suas principais características são: predomínio de pequenas propriedades agrárias, freqüentemente menores que 1 hectare; utilização de técnicas de cultivo minuciosas, em geral com .0 uso das mãos (daí o nome jardinagem) e de um sistema de irrigação; e produção destinada preferencialmente ao consumo da população local ou, às vezes, regional.
Esse tipo de agricultura intensiva ocorre em áreas densamente povoadas, nas quais há carência de terras e elevada proporção de pessoas disponíveis para o trabalho', que, em geral, é mal remunerado, tendo-se em vista as condições econômicas médias de cada sociedade nacional.

PASTOREIO NÔMADE OU TRANSUMANTE
Dentro dos sistemas agrários tradicionais, temos também o pastoreio nômade ou transumante, muito comum nas regiões áridas ou semiáridas. Trata-se de uma criação - ou pastoreio - de animais, como ovelhas, cabras e, às vezes, até vacas que são constantemente levados de um local para outro em busca de água e de pastos que não estejam secos. Dessa forma, é uma pecuária bastar extensiva e basicamente de subsistência, com uma parte da produção sendo vendida no mercado Esse tipo de criação é comum em partes da Mongólia, China, Ásia central, Oriente Médio e África
PASTOREIO NÔMADE
Pastoreio nômade de caprinos no Níger, na África, em 2007

AGRICULTURA MEDITERRÂNEA
A agricultura mediterrânea, apesar de estar modernizando nas últimas décadas, ainda é p dominantemente um sistema agrário tradicional e pouco eficiente do ponto de vista da economia global.
A agricultura mediterrânea consiste em todos os tipos de agropecuária que existem ao redor do TI Mediterrâneo, região de clima seco no verão e m chuvoso no inverno. É uma região caracterizada pelo secular ou milenar cultivo da oliva ou azeite (com a qual se faz o azeite), sem a necessidade irrigação. Abrange grande parte da Espanha, Portugal, Grécia, Tunísia, Marrocos, Líbia, Argélia, Jordânia, Líbano, Síria e o sul da França e da Itália.
Além da oliva, também são cultivados trigo, frutas diversas - principalmente as cítricas uvas destinadas à elaboração de vinhos. São em geral mono culturas semi-extensivas praticadas I pequenas propriedades rurais.
Mas isso vem mudando com a expansão da irrigação, que permite uma plantação intensiva. Apesar de ser uma prática já antiga na região mediterrânea - pelo menos em algumas áreas -, a irrigação vem sendo cada vez mais introduzida em inume localidades aí existentes, especialmente na Europa.
Em 2008, já abrangia cerca de 15% da área todas terras agrárias da região. Outras técnicas - máquinas, computadores, melhor adubação do solo, etc. - vêm sendo adotadas em várias propriedades que praticam a agricultura mediterrânea.
Isso significa que esse agrossistema está deixa do de ser tradicional - embora ainda o seja, pelo menos no conjunto - para se tornar uma agricultura moderna. A vinicultura, por exemplo, é uma atividade tradicional da região mediterrânea que vem se modernizando rapidamente nos últimos anos. A produção semiartesanal vai cedendo lugar à produção industrial com a introdução de novas variantes de uvas - muitas vezes, resultantes de cruzamentos realizados em laboratórios - e com a crescente utilização de técnicas modernas de fermentação da uva e de engarrafamento e estocagem dos vinhos. Além disso, as pequenas vinícolas familiares vão cedendo lugar às grandes vinícolas multinacionais, que compram as uvas dos pequenos agricultores e fazem o vinho em escala industrial e com o uso de tecnologia moderna.
AGRICULTURA MEDITERRÂNEA
Pasto em propriedade rural na região da Normandia, na França, em 2007

AGROSSISTEMAS MODERNOS
Os sistemas agrários modernos são aqueles que utilizam tecnologia avançada, com o emprego de tratores e máquinas variadas, adubos químicos (fertilizantes) e agrotóxicos (defensivos agrícolas), técnicas para corrigir os solos, sementes e animais selecionados - muitas vezes resultantes de pesquisas genéticas -, irrigação quando necessária (usando técnicas mais avançadas, diferentes daquelas milenares), etc.
Não existe um modelo único, mas vários tipos de agricultura moderna: alguns cultivos ou criações são intensivos e outros extensivos; alguns usam irrigação, outros não; alguns adotam plantas ou animais transgênicos, outros não; e algumas regiões começam a utilizar a chamada "agricultura de precisão", na qual existe um intenso uso da informática e do geoprocessamento, com chips para controlar o gado, SIG e implantação de GPS nas colheitadeiras para monitorar as necessidades específicas de cada parcela do solo - em termos de adubos, sementes, maior ou menor quantidade de água, de nitrogênio ou de fósforo, etc.
Podemos dizer que a agropecuária moderna nasceu com a Revolução Industrial - ou seja, com a sociedade moderna - e a aplicação gradativa dos métodos industriais, em especial a mecanização e a produção em grande escala, no campo. Mas foi após a Segunda Guerra Mundial, especialmente nos anos 1960, que esse conceito de "agricultura moderna" passou a ser empregado com mais freqüência. Ele se popularizou com a chamada revolução verde, aplicada a partir de 1966-1967 em diversos países, principalmente na Ásia, onde ela reduziu drasticamente os problemas da fome, com destaque para a Índia, o Paquistão e, posteriormente, a China.
Revolução verde A revolução verde consistiu no desenvolvimento de variedades de cereais de porte baixo, de alta produtividade e com baixa relação entre palha e grãos.
Primeiramente, variedades de trigo e milho híbridos (isto é, resultantes de cruzamento de plantas) foram introduzidas e cultivadas no Paquistão e na Índia, resultando num sensível aumento da produção de cereais, sobretudo trigo. Em seguida, um tipo de arroz também híbrido foi introduzido inicialmente nas Filipinas, fato que incluiu esse importante cereal na revolução verde. Além de novas variedades de plantas, a originalidade dessa experiência foi uma enorme expansão do uso da química na agricultura: doses elevadas de nitrogênio, fósforo e potássio foram incorporadas na adubação dos solos.
O impacto social causado por essa nova tecnologia, por causa do aumento da produção de alimentos em alguns países subdesenvolvidos, foi de tal ordem que resultou na concessão do prêmio Nobel da Paz de 1970 ao químico e agrônomo estadunidense Norman Borlaug (foto abaixo), tido como o "pai" da revolução verde.
Não há dúvida de que a revolução verde apenas diminuiu - o que significa que não eliminou - o problema da fome nas regiões asiáticas onde foi mais aplicada (sul, sudeste e leste da Ásia), mas temos de admitir que, nesse caso, uma eliminação completa é algo praticamente impossível nas atuais condições econômico-sociais, pois existem enormes contingentes de pessoas com baixíssimos rendimentos, e os alimentos são mercadorias, não objetos gratuitos. Isso quer dizer que a fome e a subnutrição são problemas sociais - políticos e econômicos - e não meramente técnicos ou agronômicos.
Do ponto de vista social, a revolução verde favoreceu os grandes proprietários de terras e prejudicou os pequenos, o que significa que contribuiu para promover uma concentração da propriedade da terra no meio rural. Isso porque são necessários grandes recursos financeiros para comprar as sementes, os adubos químicos, etc., e geralmente só os grandes proprietários possuem o capital disponível ou condições de consegui-lo nos bancos comerciais.
Além disso, essa revolução verde é mais apropriada para grandes extensões de terras, pois induz à plantação de grandes monoculturas de arroz, trigo ou milho híbridos. Como ela, de fato, aumenta a produtividade (a produção por hectare) desses cultivos, as pequenas propriedades que existem ao redor das grandes que estejam utilizando essas técnicas vão ser prejudicadas, visto que os preços desses gêneros agrícolas tendem a cair. Para os grandes proprietários, essa queda dos preços é compensada pelo grande aumento da produção e, portanto, das vendas. Mas, para o pequeno proprietário, isso é catastrófico, pois a sua produção continua a mesma. Com o tempo, muitos pequenos proprietários acabam vendendo suas terras para os grandes, o que configura maior concentração social das propriedades agrárias.
Do ponto de vista econômico, a agricultura, moderna tende a ser, direta ou indiretamente, controlada por um pequeno número de empresas multinacionais, que acabam monopolizando certas tecnologias (sementes para tal ou qual planta mais produtiva ou resistente, novos agrotóxicos, novos remédios para os animais, etc.) e cobram elevados preços para permitir que os agricultores as utilizem. Isso mais uma vez beneficia os grandes proprietários, que podem pagar, e prejudica os pequenos, assim como beneficia as regiões ou os países mais ricos e prejudica os mais pobres.
Em alguns países extremamente pobres, como os de grande parte da África subsaariana, muitas vezes nem mesmo os grandes proprietários rurais possuem condições para investir nessas dispendiosas tecnologias modernas.
Do ponto de vista do impacto ambiental negativo, a revolução verde, assim como praticamente todos os demais tipos de agricultura moderna, produziu uma contaminação de alimentos e até das águas locais. Essa contaminação é causada pelo excesso de adubos químicos e agrotóxicos empregados, que, em parte, fica nos produtos e, em parte, é carregado pelas chuvas até os rios ou se infiltra no subsolo, poluindo os lençóis subterrâneos de água. Ela é mais grave ainda nas áreas tropicais, pois aí há maior número de agentes patogênicos - fungos, bactérias, etc. -, que atacam as plantas, e não há um rigoroso inverno, que faça com que esses agentes fiquem hibernados ou inativos. Isso leva a uma maior aplicação de agrotóxicos em comparação com aquela feita em áreas temperadas ou frias. Também chuvas torrenciais, presentes em algumas áreas tropicais, induzem a uma maior aplicação de adubos químicos e agrotóxicos, pois grande parte deles é carregada pelas chuvas e não fica na plantação.
Outro impacto ambiental negativo provocado pela agricultura moderna - e logicamente também pela revolução verde, que foi uma espécie símbolo daquela - é a perda da biodiversidade (diversidade de seres vivos num ecossistema, nesse caso, no agrossistema), que ocorre na região onde ela é praticada. Isso se deve ao fato de as grandes monoculturas eliminarem inúmeras espécies de plantas (e de animais nativos), ocasionando um empobrecimento biológico. É fato conhecido que um ecossistema rico ou diversificado é muito mais estável que um ecossistema pobre ou pouco diversificado em número de espécies vegetais e animais.
Variedade de agrossistemas modernos
Como mencionamos, os agrossistemas modernos são muito variados em função de cada realidade nacional ou regional. Nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia - e também, em parte, no Brasil, na Rússia e na Ucrânia -, predominam as grandes propriedades rurais que praticam mono culturas e usam uma intensa mecanização. Na Europa, prevalecem as pequenas propriedades e a mecanização não é tão intensa, o que dificulta - embora não impeça, pois é possível inúmeros pequenos agricultores vizinhos entrarem num acordo para dividir as despesas - o uso de aviões para espalhar pesticidas, de imensos tratores ou colheitadeiras, etc. Além disso, a densidade demo gráfica nos campos europeus é bem maior do que naqueles países mencionados, o que suscita maior uso de mão de obra em relação às máquinas.
Em alguns lugares áridos ou semiáridos - em Israel, em partes da Califórnia (Estados Unidos), da Europa e da Austrália e até mesmo no Vale do Rio São Francisco, no Nordeste brasileiro -, a introdução da irrigação, juntamente com variedades especiais de plantas, fez com que surgissem algumas modernas áreas agrícolas, que produzem cereais diversos e frutas, como as uvas, que muitas vezes estão associadas à fabricação de vinhos.

Agribusiness
Embora não se trate de um sistema puramente agrário, não se pode deixar de mencionar a agroindústria - ou melhor, o agribusiness (do inglês, 'negócios agrícolas') -, que consiste na integração entre as atividades primárias e o setor industrial.
O termo agribusiness, num sentido geral (tal como foi criado nos Estados Unidos), designa toda uma cadeia ou um sistema integrado de produções - adubos, fertilizantes, cereais, máquinas agrícolas, criações, etc. - que dependem umas das outras. Num sentido mais restrito, bastante empregado no Brasil, refere-se especificamente às indústrias cujos produtos têm por base um produto agrícola, tais como: a indústria de cigarros, baseada no cultivo do fumo; a indústria de bebidas, que utiliza a cana-de-açúcar, a cevada, a uva, etc.; a indústria de óleos comestíveis, que beneficia a oliva, a soja e outros produtos agrícolas; a indústria de calçados, que usa o couro; a indústria de laticínios, que fabrica queijos, iogurtes, manteiga e outros produtos derivados do leite; a indústria de beneficiamento de carnes diversas, que produz salsichas, carnes enlatadas, frangos congelados, etc.
O agribusiness representa um último estágio da integração entre a agropecuária e a atividade industrial, ou, como preferem alguns, de subordinação do produtor rural aos interesses industriais. É muito comum que inúmeras produções, mesmo quando realizadas por pequenos agricultores - casos do fumo, da criação de frangos ou de porcos, do cultivo de uvas, etc. -, sejam determinadas pelos interesses da indústria. Geralmente, é ela que financia esses produtores - fornecendo equipamentos, insumos, etc. -, e eles, em contrapartida, vendem toda a sua produção para a grande indústria, que, aliás, acaba estabelecendo os preços para essas matérias-primas.


Agrossistemas alternativos
Os agrossistemas alternativos também são plurais, isto é, diversificados. Fala-se muito em agricultura orgânica, ecológica, sustentável, etc., e, muitas vezes, o entendimento do que seja isso tudo é bastante diferente, conforme o autor ou a prática agrária.
O que há em comum é que todas as variantes de agropecuária alternativa procuram evitar os problemas sociais e ambientais ocasionados tanto pela agricultura tradicional quanto, principalmente, pela moderna.
Procura-se, assim, uma maior harmonia com a natureza, sem agredi-Ia. Restringe-se o uso de adubos químicos - alguns até dizem que eles nunca devem ser utilizados -, dando-se preferência aos orgânicos (estercos, restos de vegetais), que são naturais e não provocam grandes impactos ambientais negativos, isto é, em geral não contaminam os alimentos nem poluem as águas. Os defensivos agrícolas ou agrotóxicos também são evitados ou até abolidos em algumas experiências mais radicais, dando-se preferência ao controle biológico das pragas.
O controle biológico consiste em pesquisar e introduzir inimigos naturais dos agentes patogênicos, isto é, organismos que são predadores desses agentes e, ao mesmo tempo, não prejudicam as plantações ou o gado. Plantas ou animais transgênicos também são descartados pela agropecuária alternativa ou natural.
Geralmente os agrossistemas alternativos praticam a policultura (ou seja, o cultivo de vários produtos), e nunca a monocultura. Em muitos casos, eles são de subsistência, mas a agricultura alternativa comercial está se expandindo bastante nos últimos anos.
Até mesmo a questão social costuma ser levada em consideração: as agriculturas alternativas fazem uso intensivo de mão de obra, procurando evitar a utilização de muitas máquinas, o que contribui para empregar mais pessoas no campo e, assim, diminuir o êxodo rural e o desemprego.
Em resumo, os principais objetivos desse sistema agrário são: a produção de alimentos saudáveis; o equilíbrio com o meio ambiente, evitando os impactos negativos e a perda da biodiversidade; e uma parcela de contribuição para resolver o problema do desemprego, que vem se agravando na sociedade moderna.
Existe no mercado mundial uma tendência crescente de produção e de compra de alimentos naturais, aqueles que são produzidos pela agricultura alternativa e que, em alguns casos, contam com apoio governamental. Na Europa e nos Estados Unidos, os cultivos orgânicos crescem de 25% a 60% ao ano. No mercado brasileiro, ultimamente eles têm crescido 10% ao ano, e 70% dessa produção é exportada, o que gerou, em 2007, uma receita de 20 milhões de dólares..
O governo inglês planeja converter em agrossistemas alternativos 20% de sua agricultura convencional. A Alemanha, atualmente o maior consumidor mundial de produtos orgânicos, determinou que toda a alimentação infantil deverá ser, progressivamente, constituída de alimentos considerados naturais.
Contudo, é bastante improvável que a agricultura alternativa, pelo menos em curto e médio prazos - isto é, até meados do século XXI -, chegue a ameaçar a hegemonia da agricultura moderna. Talvez isso ocorra em algumas áreas ou regiões específicas, mas, no nível mundial - isto é, para alimentar os 6,7 bilhões de pessoas do planeta -, os agrossistemas modernos continuam sem concorrentes.
 A agricultura alternativa já provou que pode produzir alimentos mais saudáveis, mas ainda não mostrou que pode produzir em grande escala e com preços competitivos, ou seja, que poderia alimentar bilhões de pessoas produzindo alimentos com baixo custo. Por enquanto, ela é uma alternativa para uma minoria da população - alguns setores das classes alta e média - que pode pagar preços mais elevados para consumir esses produtos naturais, ainda escassos e, geralmente, mais caros que os convencionais.
Na verdade, os três principais tipos ou modelos de agrossistema deverão continuar a coexistir por no mínimo várias décadas. Os sistemas alternativos crescem, mas os modernos continuam a predominar e também se expandem. E os sistemas tradicionais, mesmo que relativamente ineficientes, sobrevivem e até se reproduzem porque representam, em alguns casos, a única alternativa possível em face das condições socioeconômicas e ambientais da região: solos pobres e carência de capital, grande número de pessoas vivendo no campo, enorme influência cultural das tradições seculares ou, às vezes, milenares, etc.




POLÍTICA AGRÍCOLA E MERCADO NOMUNDO DESENVOLVIDO


Entre os temas mais polêmicos das reuniões da OMC estão as reivindicações dos países subdesenvolvidos para a redução dos subsídios para a produção agrícola e o fim da proteção de mercados pelos países desenvolvidos. Os países protecionistas impõem tarifas elevadas à importação de alimentos e matérias-primas de origem agr6pecuária.\ A reforma da política agrícola dos países desenvolvidos é um dos pontos mais importantes nas negociações comerciais para o Brasil e outros países exportadores de produtos agropecuários, já que os produtos desses países perdem competitividade naqueles mercados.
Do ponto de vista do consumidor que vive nos países desenvolvidos, as políticas agrícolas têm sido duplamente prejudiciais. Primeiro, porque os subsídios destinados aos agricultores são pagos indiretamente por todos os contribuintes. Segundo, porque as tarifas elevadas para as importações elevam também o preço pago pelos consumidores no mercado interno. Essa situação não pode ser generalizada, mas atinge a maioria da população que vive nos países desenvolvidos.
A elevada taxação, reforçada pela redução nas cotas de importação por parte dos três principais centros da economia mundial (EUA, Japão e União Européia), agrava ainda mais os problemas econômicos e sociais dos países dependentes da exportação agrícola e dificulta as importações de produtos fundamentais ao desenvolvimento, como máquinas, equipamentos industriais e implementos agrícolas.




ATIVIDADES AGRÁRIAS NO MUNDO SUBDESENVOLVIDO


Os países subdesenvolvidos já foram caracterizados como exportadores de produtos agrícolas e matérias-primas. Apesar de essa característica continuar válida para maioria das nações desse grupo, atualmente os países desenvolvidos é que responde pelo maior volume de exportação de produtos agrícolas. Isso porque a modernização da produção e os enormes incentivos destinados à atividade agrícola têm gerado cada vez mais excedentes nesses países. Além disso, suas políticas protecionistas dificultam a entrada da produção agrícola dos países subdesenvolvidos.
Para proteger seus produtores, os países desenvolvidos utilizam subsídios e aplicam elevadas tarifas para importação de produtos agrícolas. Outras medidas não tarifárias, como barreiras zoossanitárias e fitossanitárias, são também aplicadas, de forma não raro injustificada, embora de acordo com as normas da OMC. Como vimos, tais medidas prejudicam as exportações do mundo subdesenvolvido, já afetadas pelas barreiras tarifárias e pelas cotas de importação, que limitam a entrada de determinadas mercadorias para favorecer os produtores internos dos países desenvolvidos. A questão dos subsídios agrícolas mantidos por esses países é um dos fatores que emperram as negociações no âmbito da Rodada Doha.
Desde a década de 1950, a participação dos produtos agrícolas no mercado global vem diminuindo gradativamente. Isso se deve à expansão do comércio mundial de mercadorias e à diversificação dos produtos negociados internacionalmente, sobretudo nas últimas décadas, com a consolidação da globalização.
A maioria dos países africanos, latino-americanos e asiáticos não prioriza uma agricultura destinada ao abastecimento do mercado interno. Em grande parte, o maior obstáculo à solução desse problema, que prejudica boa parcela da população desses países, é o fato de eles não terem se libertado de seu passado colonial, considerando a estrutura e o destino da produção agropecuária. O modelo agrícola de exportação ainda é prioritário, em detrimento das necessidades locais. É justamente nos países mais dependentes da exportação de produtos agrícolas que os problemas alimentares são crônicos.
Chá, cacau, café, algodão, borracha natural, amendoim, frutas tropicais, entre outros, constituem a base da produção de muitos países subdesenvolvidos. De maneira geral, eles dependem da importação de cereais do mundo desenvolvido para alimentar sua população. No mundo subdesenvolvido, o salto de produtividade prometido pela Revolução Verde limitou-se a alguns setores ligados à agricultura e à pecuária comerciais de exportação. No sudeste da Ásia, as novas tecnologias só tiveram efeito positivo quando aplicadas à produção de arroz, alimento essencial aos povos da região.
Nos países classificados pela ONU como em desenvolvimento ou emergentes (entre eles, o Brasil), a agricultura gerou e tem gerado as divisas necessárias à importação de equipamentos e tecnologia e à obtenção de saldos favoráveis na balança comercial. Calcula-se que um quarto da colheita mundial de cereais (incluída a soja brasileira) seja destinado a alimentar o gado dos países ricos. O fato é que as políticas agrícolas não estimulam a produção de gêneros para o mercado interno, e ao mesmo tempo mantêm elevado o preço dos produtos básicos de subsistência.

A Fome
Atualmente, a produção mundial de alimentos de origem agropecuária é capaz de alimentar toda a população do planeta. Apesar da participação menor de produtos alimentícios no comércio mundial, o cultivo de alimentos aumentou no século XX em ritmo superior ao aumento da população. Ainda assim, em 2009, cerca de 1 bilhão de pessoas não tinham acesso a alimentação adequada. Milhares de crianças ainda morrem diariamente em conseqüência direta ou indireta da má alimentação, de acordo com estimativas da FAO. A crise econômica e financeira global, iniciada em 2007/2008, contribuiu para o crescimento no número de subnutridos no mundo.
Esses são indicadores de que o aumento da produção da agricultura mundial não atingiu igualmente todas as regiões do planeta. Nos países africanos, por exemplo, desde a década de 1970, o crescimento médio da produção agrícola girou em torno de 1 % ao ano, enquanto o crescimento populacional ultrapassou a média de 2,5% ao ano.
Não existe uma causa única para a fome mundial. Ela pode ter origem em um conjunto de fatores de ordem natural (secas e inundações), ser induzi da por questões econômicas e sociais (endividamento externo elevado, falta de incentivos ao pequeno agricultor e ao mercado interno, má distribuição de renda e de terras) ou ter causas políticas (conflitos armados, guerras civis e entre países).





Estrutura fundiária nos países subdesenvolvidos
A concentração fundiária, explicada pelo passado colonial, ganhou um toque de modernidade com a Revolução Verde e a mecanização rural. A Revolução Verde excluiu ainda mais os pequenos proprietários, incapacitados financeiramente de adquirir os insumos e o maquinário agrícola que ela trouxe consigo: herbicidas, pesticidas, adubos químicos, tratores, semeadeiras, colheitadeiras e outros. Ela também não incentivou a agricultura voltada para o mercado interno, que não gera divisas no comércio exterior. Na maior parte dos países subdesenvolvidos do planeta, o desenvolvimento tecnológico da Revolução Verde resultou em concentração fundiária e marginalização do trabalhador rural.
Não foi por acaso que várias rebeliões e revoluções populares nas últimas duas décadas do século XX tiveram como lema a reforma agrária. A necessidade de mudanças na estrutura fundiária e de produção agrícola são urgentes em todos os países subdesenvolvidos.

Reforma agrária e geração de renda
Além dos conflitos e das convulsões sociais, a dificuldade de acesso à terra é responsável pela peculiaridade das relações de trabalho existentes no meio rural.
No caso de parceria (pagamento em espécie pelo uso da terra, por meio de cotas estipuladas entre o parceiro e o proprietário), o agricultor divide o resultado de seu trabalho com o proprietário dá terra. Outra modalidade é a que emprega como força de trabalho os bóias-frias, trabalhadores itinerantes que se ocupam de tarefas temporárias, em épocas de plantio e colheita, recebendo por dia trabalhado ou tarefa realizada.
Atualmente, não é raro, ainda, encontrar fazendas que empregam o trabalho escravo, prática ilegal e que torna o trabalhador dependente dos donos de terras. Essas relações de trabalho muitas vezes causam conflitos sociais, emperram investimentos tecnológicos no espaço rural, além de intensificar o êxodo rural para as cidades médias e grandes.
A reforma agrária é vista como um caminho para melhorar as relações de trabalho, minimizar os conflitos no meio rural e a desigualdade social nos países· subdesenvolvidos, além de aumentar a produtividade da agricultura comercial, principalmente naqueles que apresentam percentual significativo da população economicamente ativa no setor primário.
Melhorar a renda dos trabalhadores e incorporá -los ao mercado de consumo produz reflexos positivos no restante da economia. Além disso, contribui para reduzir o êxodo rural e a conseqüente pressão no mercado de trabalho urbano.